segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Li o que tenho escrito à minha mulher. Porque o fiz? Porque é que partilhei aquilo que me custa a assumir comigo mesmo? Porque quis mostrar-lhe como consigo e sei ser honesto. Talvez sentisse necessidade de lhe mostrar  qual a linguagem que uso quando sou honesto e qual a natureza das minhas preocupações mais íntimas.
Tenho consciência que o que leu é desconcertante e algo triste. Não sei se triste é a palavra certa. Penso que não. Não há tristeza no que digo. Há verdade, nua e crua. Há coragem. Há humanidade.
Ao ouvir-me disse algo como: "não sabia que te sentias tão sozinho, lamento". Não me lembro bem das palavras exatas mas sei que a palavra "sozinho" perdurou  na sua mente.
Isso fez-me  pensar e refletir que, de facto, a forma como escrevo pode dar a entender que sou um homem só. Sim, é verdade que sou um homem só. Mas não sou um homem solitário. Sou um homem que é amado e considerado por outros.  Tenho uma mulher que se preocupa comigo e que atura as minhas neuras, uma filha que me admira, uma outra a caminho que adora a minha voz, alguns amigos que me conhecem genuinamente e uma catrefada de primos e primas, tios e tias que apreciam a minha companhia. É por isso que eu não sou solitário. Sou somente um homem só.
Sou um homem só porque é-me difícil chegar a mim, de dizer o que verdadeiramente sinto, quero e necessito. É-me difícil ser verdadeiramente honesto e justo comigo mesmo. Sou um homem só porque me isolo devido aos meus próprios conflitos.
Eu e a comunicação temos uma grande quezília em curso que ainda está para resolver.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Esvaziei a mente.

Fui nadar. Mergulhei o corpo na água e obriguei-o a fluir. E, com ele, deixei-me ir.
Antes de ir as preocupações povoavam a minha mente. Agora deixei-as a descansar. Os músculos ficaram doridos mas o corpo leve. A alma serena e orgulhosa de si.

Era meu propósito escrever antes de ir nadar para trazer à luz do dia grandes revelações a meu respeito. Queria te escrito sobre as grandes conversas e os grandes discursos que tenho para comigo mesmo. Aí vejo-me como herói onde derroto os meus opositores imaginários que vestem a pele de pessoas reais (tão injusto para elas...).
Nesses cenário imaginários estou sempre em conflito com alguém e vejo-me sempre a responder a confrontações. Essas confrontações sou sempre eu que as fabrico para se adequarem às respostas que eu quero dar. Desta forma saio sempre vitorioso e o meu adversário derrotado e inferiorizado.

No entanto, tenho que ter a coragem para admitir que os temas em questão são triviais, mesquinhos e egoístas.
Não há nada de virtuoso nestas discussões.
Não há, portanto, razões para que pudesse esperar de mim grandes revelações para problema universais e existenciais.
À luz disso, também não há razões para me sentir nem herói nem senhor de grandes intelecções.

Quero dizer, então, que sou e serei sempre um homem pequenino mas que, verdade seja dita, procura sempre ser grande (é essa a minha natureza).

sábado, 22 de outubro de 2016

O silêncio é um grande aliado meu porque permite que a verdade transparença mesmo quando existe o esforço de a esconder.

Há silêncios meus que podem resultar de conflitos interiores e exteriores. Em ambos os casos, a minha linguagem corporal denuncia o desconforto, como tiques nervosos, olhar sem rumo, mãos inquietas, pensamentos injustos, etc.

Outros silêncios, muitas vezes com origem numa aparente falta comunicação entre pessoas, resultam numa atmosfera amistosa e confortável. É assim que avalio uma amizade sincera.

Da minha experiência com os silêncios resulta o seguinte:
Aquele que fala por falar fá-lo para disfarçar alguma espécie insegurança.
Aquele que ouve em silêncio fá-lo porque nada tem a acrescentar ao que está a dito.
Aqueles que "fazem" silêncio fazem-no para se conhecerem.
E aqueles que falam em simultâneo fazem-no para se imporem, pelo que não interessa ouvir.

Eu gosto do silêncio porque nele encontro-me.







segunda-feira, 17 de outubro de 2016

É difícil saber o quanto te sentes magoada comigo.

E eu amo-te tanto!

Apaixonei por ti por ti por quem tu és, e não por vaidades. E eu quero que tu saibas disso. Porque só isso importa e só isso é verdade.

Apaixonei-me por ti porque não és igual a mais ninguém.
Apaixonei-me por ti porque te rias dos meus disparates e dos meus trejeitos.
Apaixonei-me por ti pelo teu humor inteligente, pelo teu carácter e pela tua frontalidade.
Apaixonei-me por ti pelo teu cuidado, pela tua ordem e pela tua civilidade.
Apaixonei-me pela tua poesia, pelo valor que dás às palavras e à educação, e pela forma polida com que queres viver a tua vida.

Apaixonei-me por ti, miúda. Apaixonei-me pela tua ingenuidade.

Sim, pela tua ingenuidade.
Eu, em ti, vi ingenuidade.
E vi que pertencias à Terra.

Eu sou Lua. Quis trazer Terra à minha Lua. Quis dar Terra à minha Lua.

Sabia que podia beber de ti. E esperei que bebesses da minha Terra.
Quis dar Lua à tua Terra.

Apaixonei-me por ti pela Terra que és!
E queria que tu quisesses de mim a Lua. Se calhar tu não a querias. Mas eu quis dar-ta à mesma.
Se calhar, deveria ter esperado que tu pedisses a única coisa que te podia dar...

Eu sonhei-nos aos dois: Terra e Lua casados, juntos, felizes.
Terra e Lua unidos, fortes e cumplices.

Saber, então, que eu sou a razão do teu desconforto é algo duro de aceitar. Mas seria mais duro se me rejeitasses. Sou um homem sortudo porque te manténs ao meu lado.

Mas, convenhamos: tu não és uma pesoa fácil de contentar (admiro isso em ti) e eu sou uma pessoa instável, eu sei.
Mas, sejam quais forem as razões que nos levaram a este ponto, eu só sei que posso dizer-te o que escrevi. Porque é a base do que me faz estar junto a ti.

Quero ver-me bonito aos teus olhos.
Quero ver-te bonita nos teus olhos quando olho para ti.

Quero!
Quero muito!

Mas querer não basta...
E eu tento...

Não te quero afastar de mim e não quero que te afastes de mim.
Quero viver o que os meus sentimentos projectaram: ver-te sem medo de mim, orgulhosa do que eu penso de ti.

O resto... toda esta confusão... todo este desentendimento... não entendo nada!


quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Eu não gosto de pessoas.

Talvez não goste de pessoas porque não confio nelas.
Cresci a pensar que precisava de pessoas para viver, para me sentir feliz.
Foi assim que me vi a depositar nelas muitas esperanças. Mas eram esperanças vazias pelo que delas nada pude colher.

Talvez não goste de pessoas porque não gosto do que elas são para mim. Provavelmente são elas que não gostam do que eu sou para elas.

Passei o que vivi nesta vida a tentar perceber o que é que as pessoas queriam ou o que procuravam. Procurava conquistar-lhes a confiança porque, julgava, se fizesse com que gostassem de mim talvez elas desejassem descobrir em mim o que eu desconhecia de mim.
Hoje reconheço, e admito, que essa minha atitude era interesseira e que eu disfarçava com "porreirismo". Era um "gajo porreiro", um "fixe".
E procurava sem olhar a quem...
Mas nunca encontrei nada. Nem me deram nada que eu dissesse "era mesmo isto que eu precisava".

Hoje sei.
Sei que procurei algo nos outros sem nunca os querer como pessoas. Eu só queria que os outros me dessem sem que eu tivesse alguma coisa para lhes dar.

Eu nunca tive nada para dar.

Nada!



terça-feira, 11 de outubro de 2016

Noutros tempos, via o mundo que atravessava os meus olhos como um lugar fantástico para viver. Mas nos olhos dos outros via-me sempre como alguém que não pertencia a esse mundo.

Por algumas vicissitudes da vida, a determinada altura dei por mim a olhar para lá (para a vida nesse mundo fantástico) e percebi que de onde estava dificilmente saía.

Mas eu queria ir para lá.

Para isso, esperneei, chorei, ri e pedi. Enchi o peito de ar e dei o peito às balas. E por causa disso levei sempre para trás. Contorcido das vergastadas deixei-me ficar, qual cão arduamente disciplinado a obedecer à ordem de permanecer quieto no seu lugar.

Mais tarde ganhei forças e vi na luta por um ideal um possível caminho para o tal mundo que os meus olhos, envenoados, viam como um lugar fantástico. A espasmos ensaiava atos de liberdade e conseguia fugir de onde estava amarrado.
Mas rapidamente voltava para ele, lambendo as feridas e tentando esconder a derrota.
Buscava moinhos, ilusões.
Os descontentamentos, as revoltas, a vergonha e o medo de ser descoberto atormentavam a minha alma.

Teimoso, porque sou o último obstáculo antes mim, voltei à carga. Não desisti!
Desta vez deixei-me de ilusões e lutei por mim.

(tão óbvio, tão simples)

Desci às minhas profundezas para resgatar as minhas primeiras vozes que viveram mergulhadas num acompanhamento vazio e numa permanente incompreensão e desconsideração.
Aprendi a fazer as pazes comigo e a minha voz ganhou novos tons, novas cores, novas entoações e vibrações. O vazio que habitava a minha alma cheia desapareceu e passei a ver o mundo com o que os olhos do meu coração me davam a conhecer.

Foi daqui que aprendi a observar o mundo e a reparar em mim.

Cresci em meia dúzia de anos aquilo que deveria ter crescido lentamente (para amadurecer bem) ao longo de 34 anos.

Hoje, sou um homem com 40 que vive o que sente um jovem no fim da adolescência. Não é fácil.
Hoje, quero ir atrás do que desejo. Mas falta-me tempo.
Soa a desculpa, eu sei, para justificar a minha passividade perante muitas coisas.

(E é mesmo uma desculpa!)

Talvez hoje, enquanto escrevo, ganhe uma nova consciência: de que sou mais importante do que aquilo eu espero que me aconteça vida, pelo que se quero algo devo avançar por aí fora, sozinho ou não.

sábado, 8 de outubro de 2016

Ensinam-nos que perdoar é amar. Que devemos perdoar tanto aqueles que amamos como aqueles que pouco conhecemos. Ou seja, ensinam-nos a dar segundas e terceiras oportunidades a quem, de alguma forma, falhou para connosco. A agir tal como gostaríamos que agissem connosco quando também falhamos com os outros.

É justo!

Mas não esquecemos as injúrias. Eu, pelo menos, não esqueço! E é ser hipócrita pensar que o simples perdão faz com que as coisas voltem a ser como dantes.

Não voltarão!

As pessoas mudam com as atitudes que vão tomando pois somos como agimos e não como pensamos agir. O que significa que as consequências dos nossos atos moldam-nos o carácter. O problema é que a minha consciência, que sabe disso, mói-me sem piedade. Seria tudo muito mais fácil se a minha consciência tirasse férias vez quando. Assim, as recordações dos atos falhados e de situações embaraçosas não intimidariam a decisão agir em conformidade com o presente, com o agora e já!

Sou uma pessoa impulsiva e isso tem um alto preço para a minha vida. Os mais ponderados e responsáveis pelo que se passa minuto a minuto nas suas vidas terão sempre maior controlo sobre as consequências dos atos. Porque têm discernimento para antever o que pode acontecer no segundo antes de agirem. Claro que há sempre inesperados que fogem ao controlo, mas isso são contingências necessárias do devir e da mudança pois o mundo é um lugar mutável e elástico.

Perdoemos, sim. Mas perdoemos para nos acautelar, para saber o que esperar e como reagir.

Perdoemos para assumirmos que somos falíveis, que não somos perfeitos nem melhores que os outros.

Perdoemos porque isso nos torna mais humanos. Porque ser humano é, também, existir com os outros e através dos outros.

Perdoemos porque somos animais políticos; precisamos que outros nos ajudem a transformar o espaço onde vivemos num sítio melhor.

Perdoemos para amar; observar as mudanças subtis nos outros (e em nós) que faz com que pertençamos uns aos outros.

Perdoemos, sem ódios, sem rancores. Mas conservemos a memória do que nos é dado e pedido num silêncio atento e vigilante.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Tenho uma voz que comanda as minhas ações que está para lá da minha consciência.

Por mais que saiba que a minha consciência é a fonte de toda a dor e sofrimento que atinge a minha emocionalidade, é a voz que a contraria que me provoca a maior parte dos meus problemas.

Penso que a voz da minha consciência é permissiva à voz da minha vontade imediata...

Por um lado, julgo que a minha consciência pertence ao inconsciente cósmico, essa entidade que vai para lá do individual e que pertence à vida para além daquilo que se conhece. Todos a temos e eu não sou excepção. É uma entidade verdadeira e real, velha como tudo, mãe de todas as sabedorias terrenas e fonte clássica de todas as aspirações espirituais do ser humano.

Há, dentro de mim, essa entidade e é ela que me avisa, alerta e aconselha sobre tudo o que se passa à minha volta. Eu sei que deveria confiar nessa voz. E confio. Mas não lhe ligo nenhuma.

Obedeço, simplesmente, a esta minha voz que floresce a quente sobre a minha pele, que é teimosa e não tem ouvidos. Só tem olhos e desejo de ter. É uma voz que cobiça o que os olhos vêem e não presta atenção ao que observam.

A voz do meu consciente sim, essa tem origem no que os olhos observam e o coração pressente. Nunca soube lidar com essa sabedoria dentro de mim. Aliás, trato-a mal. Sei que a tenho, mas sou um revoltado perante ela. Só uso a minha sabedoria por vaidade, não por verdadeira necessidade.

A minha voz imediata é rebelde e imatura. Sabe que está protegida à custa da boa vontade da minha inteligência e do meu consciente que é demasiado benevolente para com os seus erros.

É tempo de dar voz à voz do meu consciente. Porque o meu consciente vai beber do meu inconsciente e é nele que toda a magia do ser vivo reside. É no meu inconsciente que reside a natureza do que sou. Se quiser ser um homem mais seguro devo segurar essa voz pausada e quente, atenciosa e compreensiva, e dar-lhe potência e vibração. A minha voz impaciente, a que cresce do imediato e cujas raízes não vão para além da derme, terá sempre o seu lugar. Existirá sempre e aproveitar-se-à de todas as oportunidades para fazer os seus estragos.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Tem dias em que me sinto especial e cheio coisas interessantes para dizer. Mas logo desisto de entrar nesse caminho por sentir medo do que escondo de mim mesmo.

É como se tivesse receio de descobrir que sou melhor do que sempre quis ser.

Noutros dias parece que percebo que essa ideia de grandeza não passa de pura ilusão, que nada tenho para dar ou demonstrar a mim mesmo, a não ser uma grande vontade de me sentir especial aos olhos dos outros.
Afinal, sou um homem normal: grandes ilusões e sonhos de menino que aumento diariamente enquanto exercito a procrastinação.

E nisto, passa-se o tempo...

Na arte de não fazer nada encontro um sossego que me conforta mas que não me dá paz. Ou é porque me sinto culpado aos olhos dos outros (uma vez que a arte de não fazer nada é mal vista pela sociedade), ou é porque o bichinho do inconformismo me mói a consciência até ao tutano.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Dia após dia, o mundo parece igual.

Tudo na minha vida muda e eu vou sendo diferente do que fui.
Mas continuo a pensar de maneira igual.

A mudança obriga à ação.
Mas, interiormente, os meus sentimentos continuam doridos.

Aos poucos e poucos vou-me libertando.
Mas mantenho por perto a mágoa.

Não quero libertar-me da mágoa porque foi o único sentido que pude dar ao que fui vivendo na minha meninice.
Ficou, então, o único pensamento que soube conceber que tivesse algum sentido.
E isso ficou para sempre.

Por mais que tenha feito ao longo da minha vida, esse foi o sentimento que sempre me acompanhou e que sempre fui demonstrando.
Hoje sei que não preciso de o demonstrar.
Hoje sei que não quero, nem posso, esperar que o compreendam. Ninguém o iria compreender.
É o meu próprio pensamento, fruto da minha imaginação e das minhas necessidades.

Este pensamento só me serve a mim. Serviu-me para justificar a minha existência. Por isso, não peço a ninguém para viver a minha vida como também não quero que me peçam para viver a vida dos outros.

Esta minha sentença custou-me a conquistar.
É em mim que guardo os significados da coisas que fui dando para justificar a incompreensão de viver o mundo onde nasci.