terça-feira, 11 de outubro de 2016

Noutros tempos, via o mundo que atravessava os meus olhos como um lugar fantástico para viver. Mas nos olhos dos outros via-me sempre como alguém que não pertencia a esse mundo.

Por algumas vicissitudes da vida, a determinada altura dei por mim a olhar para lá (para a vida nesse mundo fantástico) e percebi que de onde estava dificilmente saía.

Mas eu queria ir para lá.

Para isso, esperneei, chorei, ri e pedi. Enchi o peito de ar e dei o peito às balas. E por causa disso levei sempre para trás. Contorcido das vergastadas deixei-me ficar, qual cão arduamente disciplinado a obedecer à ordem de permanecer quieto no seu lugar.

Mais tarde ganhei forças e vi na luta por um ideal um possível caminho para o tal mundo que os meus olhos, envenoados, viam como um lugar fantástico. A espasmos ensaiava atos de liberdade e conseguia fugir de onde estava amarrado.
Mas rapidamente voltava para ele, lambendo as feridas e tentando esconder a derrota.
Buscava moinhos, ilusões.
Os descontentamentos, as revoltas, a vergonha e o medo de ser descoberto atormentavam a minha alma.

Teimoso, porque sou o último obstáculo antes mim, voltei à carga. Não desisti!
Desta vez deixei-me de ilusões e lutei por mim.

(tão óbvio, tão simples)

Desci às minhas profundezas para resgatar as minhas primeiras vozes que viveram mergulhadas num acompanhamento vazio e numa permanente incompreensão e desconsideração.
Aprendi a fazer as pazes comigo e a minha voz ganhou novos tons, novas cores, novas entoações e vibrações. O vazio que habitava a minha alma cheia desapareceu e passei a ver o mundo com o que os olhos do meu coração me davam a conhecer.

Foi daqui que aprendi a observar o mundo e a reparar em mim.

Cresci em meia dúzia de anos aquilo que deveria ter crescido lentamente (para amadurecer bem) ao longo de 34 anos.

Hoje, sou um homem com 40 que vive o que sente um jovem no fim da adolescência. Não é fácil.
Hoje, quero ir atrás do que desejo. Mas falta-me tempo.
Soa a desculpa, eu sei, para justificar a minha passividade perante muitas coisas.

(E é mesmo uma desculpa!)

Talvez hoje, enquanto escrevo, ganhe uma nova consciência: de que sou mais importante do que aquilo eu espero que me aconteça vida, pelo que se quero algo devo avançar por aí fora, sozinho ou não.

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